Presente Noturno

A noite estava fresca e agradável; uma suave brisa acariciava as copas das árvores, compondo uma melodia harmoniosa e aconchegante. A luz da Lua crescente permitia a qualquer viajante visibilidade o bastante pra poder se embrenhar na floresta sem que corresse o risco de não achar o caminho de volta.

Mas quem se aventuraria a andar pela floresta quando existia a chance de cruzar o caminho de um animal feroz e faminto, ou mesmo de um salteador? Viajar à noite, por mais clara que fosse, nunca era seguro; no entanto, se fosse inevitável, por que andar entre árvores quando se podia usar a estrada?

Seria assim que qualquer pessoa com o mínimo de sensatez pensaria, exceto as duas figuras misteriosas e elegantes que caminhavam rápida e silenciosamente pela floresta – mais pareciam levitar do que andar. Aqueles dois não temiam cruzar o caminho de qualquer fera. Na verdade até gostariam que aparecesse, de preferência grande; se algum salteador os abordasse, seria muito azar. O dele. Não pelo fato de não carregarem uma moeda sequer ou trazerem nada valioso consigo, e sim por que ambos fariam questão de fazê-lo se arrepender amargamente pela ousadia. Um ladrão a mais ou menos não faria diferença por mundo.

Não, não chegariam a tanto. Felizmente a sede que estavam sentindo ainda não era forte o bastante pra que lhes afetasse a razão, fazendo-os esquecer-se do voto de nunca atacarem um humano pra saciarem a fome.

Coelhos, corujas, roedores... Era tudo que conseguiam captar com sua audição apurada. Obviamente poderiam alimentar-se deles, mas como de costume, sempre preferiam abater um animal de grande porte, que saciasse a ambos. Entretanto, se não encontrassem o que procuravam até o despontar da aurora, não arriscariam mais um dia de sede e beberiam de pequenos animais. A maldição que carregavam fazia do sangue não só seu alimento, mas também a única coisa que mantinha sua sanidade.

CONTINUA... Mas só no livro.

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